Joalharia
Em 1978, Manuel Costa Cabral convida Tereza Seabra (recém-chegada de Hamburgo, após ter estado em Nova Iorque onde é aluna e assistente de Thomas Gentille) para organizar no Ar.Co o que virá a ser, em Portugal, o primeiro programa de Joalharia de Autor integrado numa escola de artes. O departamento abre logo nesse ano, orientado por Tereza Seabra (até 2004) que define a logística e as linhas programáticas gerais em estreita colaboração com Alexandra Serpa Pimentel (também ela recém-chegada de Londres, onde se forma na Central School of Art & Design). O ensino aposta numa formação técnica exigente associada ao metal e aliada a projectos de grande liberdade criativa, mas encontra-se ainda muito preso ao aspecto formal da jóia. Com um rápido crescimento do número de alunos, o departamento vai moldando o seu programa, integra novas disciplinas (Desenho, História de Arte, História da Joalharia, em paralelo com conferências sobre estas áreas) e inicia convites a artistas internacionais para orientarem workshops. Thomas Gentille é um dos primeiros convidados, expondo ao mesmo tempo na Fundação Calouste Gulbenkian. A presença de professores estrangeiros convidados tornar-se-á prática corrente do departamento: ao longo do tempo, virão ao Ar.Co Ted Noten (Holanda), Paolo Marcolongo (Itália), Christoph Zellweger (Inglaterra), Ruudt Peters (Holanda), Katharina Menziger (Suiça), Fausto Maria Franchi (Itália), Elisabeth Callinicos (Inglaterra), Kadri Maelk (Estónia ), Monika Brugger (Alemanha), Noam Ben-Jacov (Holanda) e Deganit Stern-Schoken (Israel), entre muitos outros. Ao mesmo tempo, as portas do departamento abrem-se a artistas e professores de outros sectores do Ar.Co (Pintura, Escultura, Desenho, Artes Gráficas e, mais tarde, também Cerâmica): esta partilha de experiências com outras formas de expressão criativa vai influenciar uma reestruturação que privilegia a análise do processo de trabalho e o percurso pessoal, minorando a importância da jóia como produto final (que se despe gradualmente do seu lado ornamental e decorativo, tornando-se mais experimental e conceptual). As fronteiras da joalharia com as artes plásticas são cada mais ténues, à semelhança do que sucede noutras escolas americanas e europeias. Progressivamente, a Nova Joalharia impõe-se e desperta o interesse por parte de orgãos estatais e de directores de museus, fazendo surgir os primeiros convites para exposições. Leonor d’Orey, conservadora da colecção de Ourivesaria e Joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, acolhe em 1985 a primeira exposição de professores e alunos de Joalharia do Ar.Co (“Nova Ourivesaria no Museu Nacional de Arte Antiga”, em colaboração com o ICEP e com o Centro Nacional de Design). Paralelamente, Madalena Braz Teixeira, directora do Museu Nacional do Traje, promove sucessivas mostras (os ciclos “Anos 80” e “Jóia do Mês”). A estas iniciativas seguem-se outras, lideradas por ambas. O virtuosismo técnico, inerente sobretudo ao trabalho dos metais ditos nobres, ocupa agora um plano secundário: os novos materiais e tecnologias desafiam a pesquisa e a exploração, conferindo à jóia novas dimensões visuais e contextuais: “Todos os materiais são preciosos se soubermos revelar a sua alma. Nunca usar um material, quando outro pode ser usado, porque só um funcionará”. Estas máximas, de Thomas Gentille, estão vincadas na exposição “Linguagem dos Novos Materiais” que se realiza entre Julho e Setembro de 1988 no Palácio Nacional da Ajuda. É ainda no final da década de 80 que se estabelece - pela mão de Marie Jose van de Hout, galerista e coleccionadora holandesa (Galeria Marzee) - o contacto da Joalharia de Autor portuguesa com o panorama internacional. O pequeno grupo que constitui a primeira geração de artistas/joalheiros recém formados pelo Ar.Co lança-se timidamente à conquista de um território firme, já delineado por um alfabeto legível. Em 1986, Cristina Filipe, Manuel Júlio, Filomeno Pereira de Sousa, Pedro Cruz e Marilia Maria Mira são seleccionados para participar na exposição “European Crafts Today”, que se realiza em Tóquio e em Osaka (sendo a selecção portuguesa mostrada posteriormente em “Tokyo-Osaka-Lisboa”). Alunos formados no Ar.Co (Marília Mira e Pedro Cruz) participarão em 1988 no prestigiado acontecimento anual Schmuck (na altura Schmuckzeen), que se realiza em Munique desde 1959. No evento paralelo Jugend Gestaltet (posteriormente denominado Tallent) Cristina Filipe vence em 1989 o prémio honorário. Ainda a convite de Maria Jose van de Hout realiza-se em 1989 em Nijmegen, Holanda, a ambiciosa exposição “Kammen - An Art Collection of Combs”, com participação de joalheiros ligados ao Ar.Co. Entretanto consolidam-se os intercâmbios de alunos e alargam-se os protocolos com academias no estrangeiro (a Gerrit Rietvelt Academie de Amsterdão, o Royal College of Art de Londres e a Estonian Academy of Arts, de Tallinn) e o corpo de professores do departamento integra ex-alunos já profissionalizados: Marília Maria Mira, Paula Crespo, Manuel Júlio, entre outros. Filomeno Pereira de Sousa com o grau de primeiro oficial de joalharia, vindo da ala do ensino tradicional, junta-se ao sector em 1982, onde permanece até 1988. Cristina Filipe, professora no Ar.Co desde 1988, imprime uma forte marca no departamento após a sua especialização na Gerrit Rietveld Academie (com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, 1987-88) e do seu mestrado em Joalharia no Surrey Institute of Art & Design (2000-2001). Também Marília Maria Mira se especializa (igualmente com uma bolsa da FCG, 1988-90) na Escola Massana de Barcelona. A partir de 1989 surgirá uma nova proposta no curso de Joalharia – a formação intensiva – que implementa uma carga horária específica para a cadeira de projecto a par da técnica já existente. A metamorfose da Jolharia de Autor é bem visível através de dois acontecimentos-marcos: as exposições “Isto é uma Jóia” e “Ponto de Encontro/Meeting Point(s) – 25 Anos de Intervenções no Departamento de Joalharia do Ar.Co”. A partir de 1998, a galeria Marzee passa a integrar os finalistas do departamento de Joalharia nas suas exposições anuais – “International Graduation Show”. Com o virar do século, são diversas as plataformas criadas para implementar e divulgar a Joalharia de Autor: bolsas de estudo de especialização, mestrados em Joalharia, encontros de escolas e simpósios internacionais, exposições em Portugal e no estrangeiro, galerias (a pioneira Artefacto 3, fundada em 1984 e que passa em 1998 a ser a Galeria Tereza Seabra - Jóias de Autor; a Galeria Reverso, fundada nesse mesmo ano por Paula Crespo e Ana Isabel Rodrigues), novas escolas, ateliers e associações (a PIN, Associação Portuguesa de Joalharia Contemporânea, fundada em 2004 por Cristina Filipe, Marília Maria Mira e Paula Paour). O departamento realiza viagens de estudo internacionais para visitar os grandes epicentros da joalharia contemporânea, bem como algumas das escolas com quem estabelece intercâmbios: Londres e Sheffield (1998), Munique e Pforzeim (2000), Amesterdão e Antuérpia (2006) e Valenza (2012) são alguns exemplos. Alunos e professores são convidados para encontros internacionais onde participam em exposições, proferem palestras e orientam (e/ou participam em) workshops: “Joalharia e Xamanismo” (1990, Gerrit Rietveld Academie; Cristina Filipe e Marta Eliseu), “L’ornament est-il toujours un crime?” (2002, Haute École d’Arts Appliqués, Genebra; Tereza Seabra, Cristina Filipe, Inês Nunes e Diana Silva), “Flags” (2007, Konstfack, Estocolmo; Cristina Filipe, Artur Madeira, Ana Margarida Carvalho e Sónia Graça) “Siamo Qui” (2007, Florença; Cristina Filipe, Leonor Hipólito, Sónia Graça, Typhaine Le Monnier e Teresa Chang), “Sieraad - Jewellery International Art Fair” (2008, Amesterdão; Alexandra Rodrigues, Cristina Filipe, Joana Mota Capitão, Maria Ana Ricon Peres, Mariana Gonçalves, Sofia Canas da Mota, Typhaine Le Monnier e Vânia Santos) são alguns destes eventos, onde estão representadas as escolas mais consagradas no panorama do ensino da joalharia contemporânea internacional. Mais recentemente, alunos recém-graduados são convidados a estar representados no evento JOYA, em Barcelona (David Pontes, Natalia Olarte, Typhaine Le Monnier em 2012 e Laura Rose, Gabriela Coelho e Alice Gelin em 2013) e participam (2012) na exposição “Periferia-Escuelas de Joyería del Sur”, no evento “Melting Point”, em Valença, Espanha (Carlos Silva, Gabriela Coelho, Joana Taurino, Laura Rose, Maria Emília Martinho e Typhaine Le Monnier). Visando a divulgação da joalharia contemporânea, o departamento realiza múltiplos projectos temáticos que desenvolve em parceria com instituições nacionais: o projecto Áqua” em 1986 (com o Centro Hospitalar e Câmara Municipal das Caldas da Rainha), “Santarém Capital do Gótico” em 1987 (Centro Regional de Santarém), o “Projecto Álvaro de Campos” em 1988 (Galeria de Arte da Casa-Museu Álvaro de Campos em Tavira, com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, da Região de Turismo do Algarve e da Câmara Municipal de Tavira), “Os Dias de Tavira” em 2001, e mais recentemente, com o Museu Nacional de Arqueologia (“Morte do Objecto: De um Artefacto Funerário à Joalharia Contemporânea”, 2010) e com o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (“Jóias a partir das colecções”, 2013). Cristina Filipe cessa funções como responsável do departamento em 2015 e Catarina Silva será a nova responsável do departamento a partir daí.
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Aula de Joalharia no Ar.Co, Lisboa. 1978.
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Tereza Seabra e Gudrun Maas (professora convidada) no Curso Intensivo de Joalharia. Ar.Co, Setembro, 1981.
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Workshop com Ruudt Peters, Ar.Co, Lisboa, 1995.
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Exposição “Santarém Capital do Gótico”, Forum - Centro Cultural Regional de Santarém, 1987.
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Joalharia - Projecto "10 Anéis para 10 Dedos", 1998. Inês Nunes.
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Workshop com Christoph Zellweger, Ar.Co, Lisboa, 1998.
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Peças de Ana Henriques, 2005. Prata e vidro.
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Sónia Graça. Pulseira. 2006.
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Peças de Miriam Castro, 2006.
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Visita de Estudo do Ar.Co guiada por Marjan Unger ao Sandberg Institute, Gerrit Rietveld Akademie, Amsterdão, 2007.
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Typhaine Le Monnier. Alianças. 2007.
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Joalharia - Visita de estudo do Ar.Co à Rietveld Academie, Amsterdão, 2007.
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Peça de Hugo Madureira, 2008, materiais diversos.
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Amostras de "badges" do Ar.Co para o Simpósio de Joalharia "Siamo Qui", Florença, 2008.
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Dani Soter. "Peça para o corpo", no âmbito do workshop com Christoph Zellweger, Ar.Co, Lisboa, 2009.
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Projecto Ar.Co (Joalharia) com o Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, 2009.
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Beatriz Mousinho. Pulseira. 2010.
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Hanna Lundborg. Colar. 2010. Aluna de Intercâmbio Ar-Co - Konstfack University College of Arts, Crafts and Design, Estocolmo.
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Alexandra Rodrigues. Broche. 2010.
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David Pontes. "Piões". Prata, bronze, latão, cobre e aço inox. 2011.
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Susana Medeiros. Colar. papel. 2012.
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Debora Palma. Colar. Fragmentos de parede pintada. 2013.
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Exposição "Intersecções" - resultados de projecto com Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa, 2013.
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Workshop com Deganit Stern Schocken, Ar.Co, Lisboa, 2013.
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Catarina João. Pendente. 2014.
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Rita Marques. Projecto departamental auto-retrato, 2014.
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Manuela de Sousa, artista/joalheira convidada no âmbito dos cursos teóricos do departamento de Joalharia, 2015.
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Manuel Júlio, artista/joalheiro convidado no âmbito dos cursos teóricos do departamento de Joalharia, 2015.